quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Ameaça leva bispo a se refugiar: Solidariedade a Dom Pedro!



Solidariedade a Dom Pedro!



Aos 84 anos e com a saúde debilitada por ser portador do mal de Parkinson, d. Pedro Casaldáliga foi orientado a deixar a Prelazia de São Félix do Araguaia (MT), onde é bispo emérito, depois de sofrer ameaças de morte por invasores da Terra Indígena Marãiwatsédé que está voltando aos seus antigos donos após uma longa batalha judicial. Na semana passada, a Justiça Federal em Mato Grosso negou o pedi


do para que a retirada de não índios da área fosse suspensa. D. Pedro deixou São Félix escoltado pela Polícia Federal até um avião fretado que o levou a Brasília e de lá foi para a cidade de Goiás onde participou, no fim de semana, das comemorações dos 90 anos de d. Tomás Balduíno organizadas pela diocese local. O bispo encontra-se em local ignorado sob proteção policial.
Natural da Catalunha (território autônomo da Espanha), d. Pedro vive em São Félix do Araguaia desde 1968. Desde 2005 é bispo emérito. O seu afastamento compulsório da cidade foi assunto no mais importante jornal espanhol, o El País em outros veículos internacionais, como a Agência Efe. O El País foi informado da saída do bispo da Prelazia de São Félix por Francesco Escribano, biógrafo de d. Pedro e diretor da produtora Minoria Absoluta, que prepara uma minissérie de TV sobre o religioso. Na semana passada, num bar de São Félix, um homem anunciou em voz alta que d. Pedro “não passaria” daquela semana.
A ameaça foi em razão do fim do prazo, na quinta-feira da semana passada, para que as famílias que ocupam a Terra Indígena Marãiwatsédé deixassem a área voluntariamente. Desde esta segunda-feira uma força tarefa do governo brasileiro, a pedido da Funai, começou a retirar os ocupantes da área, localizada no município de Alto Boa Vista, a 1.064 km de Cuiabá, no Vale do Araguaia. Para os não índios que vivem na área que estava sob litígio, o religioso estaria por trás da decisão judicial.
No sábado, na cidade de Goiás, d. Pedro Casaldáliga esteve presente nas comemorações antecipadas dos 90 anos de d. Tomás Balduíno, em eventos realizados no Centro Diocesano, que sediou o Seminário Vaticano II e a Teologia da Libertação; e na Catedral de Sant´Anna, onde foi celebrada uma missa solene. Embora debilitado fisicamente, o bispo emérito de São Félix do Araguaia participou ativamente das
discussões.


APOIO


Durante os eventos na antiga capital, 15 entidades, entre elas a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) divulgaram uma nota de apoio a d. Pedro. “Nós, sabendo da situação conflitiva que se está vivendo na região de São Félix do Araguaia, pela determinação judicial de desintrusão da Terra Indígena Marãiwatsèdè, do povo xavante, e das ameaças que estão sendo feitas a você, Pedro, por sua defesa intransigente dos direitos indígenas, manifestamos-lhe nossa mais irrestrita solidariedade e apoio que estendemos aos xavantes”, diz a nota. Ninguém da diocese de Goiás soube dizer, ontem, para onde o bispo foi levado.

Desocupação começa com confronto violento



Cuiabá - No primeiro dia da reintegração de posse na Terra Indígena Marãiwatsédé houve confronto violento entre produtores rurais e policiais. O saldo foi de oito feridos, mas ninguém corre risco de morte. O confronto ocorreu por causa da retirada dos ocupantes não índios da reserva, reconhecida como de propriedade dos índios xavantes. Segundo os policiais, homens do povoado Posto da Mata teriam ido até uma fazenda que estava sendo desocupada e atacado os agentes com paus e pedras.
A desocupação da fazenda começou ontem por volta das 12 horas numa verdadeira ação de guerra. Os oficiais estavam acompanhados de policiais rodoviários federais enquanto um helicóptero sobrevoava a área. Nessa primeira etapa estão sendo desocupadas as grandes propriedades.
Segundo levantamento do Ministério Público Federal, grande parte das áreas da reserva Marãiwatsédé está nas mãos de 22 grandes posseiros. O grupo constituído de prefeitos, ex-prefeitos, vereadores, empresários e até um desembargador é dono de mais de 32 fazendas, o equivalente a 44,6 mil hectares.
A procuradora Marcia Brandão Zollinger disse que desconhecia o confronto, mas afirmou que “a ordem é cumprir a determinação judicial”.
A saída dos fazendeiros e posseiros que ocupam a área indígena deveria ter acontecido até o fim do mês de setembro. Poucos dias antes do fim desse prazo, duas decisões do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região (TRF-1) suspenderam a desocupação, desobrigando, temporariamente, a saída dos ocupantes da área.
De acordo com o Censo de 2010, a população residente na área da terra indígena Marãiwatsédé é de 2.427 pessoas.


HISTÓRIA



A área com 165 mil hectares, está na Amazônia Legal, entre os municípios de Alto Boa Vista, Bom Jesus do Araguaia e São Félix do Araguaia, no Mato Grosso. No início do século 20, os xavantes viviam na área, mas foram expulsos na década de 1960, quando a Agropecuária Suiá-Missú se instalou na região com apoio do governo federal. Os Xavante foram levados para o sul do Mato Grosso.





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Rápida conversa com Dom Pedro Casaldáliga sobre juventude e Reino! A mensagem foi gravada durante a Romaria dos Mártires da Caminhada de 2011, em Ribeirão Cascalheira (MT)



‎"Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar." Dom Pedro Casaldáliga, o bispos dos pobres.